A portuguesa com 600 "filhos" no Bangladesh, viveu em Avanca

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A jovem que recusou ignorar a miséria dos outros não hesitou em vender os seus vestidos para ajudar os meninos pobres de Daca. Sem preconceitos, porque o sorriso de uma criança vale tudo. Hoje, é responsável por uma ONG que faz toda a diferença num bairro da cidade

Tímida, frágil, ar de menina perdida em mundo de adultos. Essa é a primeira imagem que se tem de Maria da Conceição, a jovem portuguesa galardoada com o Prémio Mulher do Ano 2009 dos Emirados Árabes Unidos (EAU) pela sua acção humanitária no Bangladesh. Mas toda essa primeira impressão desaparece quando começa a falar dos seus "filhos", das centenas de crianças a quem procura dar um futuro melhor apesar de viverem num dos países mais pobres do mundo. Então, Maria ganha toda uma outra atitude e revela-se uma mulher determinada, dinâmica e sem preconceitos tontos como ela própria conta: "Desde que fui a Daca pela primeira vez tornei-me na maior pedinte do mundo porque não me canso de pedir canetas, cadernos, roupas, tudo o que possa servir para os meus filhos." E o sorriso abre-se, iluminando-lhe o rosto.

Maria, a mais nova de oito filhos, nasceu em Vila Franca de Xira há 33 anos, faz amanhã. Com apenas dois anos, a família troca o Ribatejo pela Beira Litoral e fixa-se em Avanca, a norte de Aveiro, a mesma freguesia que a recebeu recentemente e que fez questão de organizar uma recolha de fundos para apoiar a organização não governamental (ONG) que criou em Daca, capital do Bangladesh, e que, desde quinta-feira, tem uma delegação em Portugal.

Irrequieta, Maria do Céu cedo decide ser responsável por si mesma. Ruma a Itália, depois à Suíça e, por fim, ao Reino Unido, onde trabalha vários anos na área de restauração. É, aliás, na capi- tal britânica que - por razões pessoais - procura um novo emprego, o que a leva a integrar as fileiras das assistentes de bordo da Emirates, a companhia aérea dos EAU, o que a força a ir viver para o Dubai.

Ser assistente de bordo significava para Maria contactar com novas culturas, novas gentes, conhecer novas paragens. E não perdia tempo: cada vez que fazia escala numa cidade, saía à sua descoberta. Foi assim que "descobriu" a miséria de Daca.

"Quando lá cheguei pela primeira vez, perguntei ao porteiro do hotel o que havia para ver na cidade, monumentos, locais turísticos... Ele respondeu-me que havia orfanatos, hospitais e bairros de lata", conta Maria. E foi o princípio de tudo.

Ao visitar um orfanato, as freiras - da ordem da Madre Teresa - desafiaram-na a ir a um hospital. Foi, e o que viu - a miséria, a falta de higiene, o abandono em que se encontravam os doentes, as crianças de rua - mudou-lhe a vida. Desde então, impôs a si própria um objectivo: quebrar o ciclo vicioso da miséria e criar condições às crianças para serem cidadãos de corpo inteiro e terem um futuro melhor; ajudar as crianças pobres e as suas famílias a serem auto-suficientes e a contribuírem para uma sociedade melhor. Num país onde o trabalho infantil é algo normal, Maria quer que as crianças sejam crianças.

Cinco anos após ter criado a ONG Dhaka Project, a jovem portuguesa conseguiu criar um oásis de esperança num dos bairros de Daca, oásis que, durante algum tempo, alimentou com parte do seu salário. Aliás, não hesitou em vender tudo o que de valor tinha no seu roupeiro para poder ajudar as crianças, ao ponto de ter ido receber o prémio de Mulher do Ano dos EAU com um vestido emprestado... Depois, os donativos começaram a chegar; o primeiro possibilitou enviar 29 crianças à escola.

Hoje, Maria - que continua a trabalhar como assistente de bordo, situação de que tira proveito para ajudar a sua causa - passa as folgas e férias em Daca, junto dos seus "mais de 600 filhos" do coração, um número que aumentará consoante chegarem as ajudas.

Desde que fui a Daca pela primeira vez tornei-me na maior pedinte do mundo"


Fonte: DN

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