Figuras Históricas de Avanca

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António Joaquim Ferreira (Catitinha)


António Joaquim Ferreira “Catitinha”, filho de Joaquim Ferreira e de Maria da Conceição Galvão, nasceu na Freguesia de S.Tiago do concelho de Torres Novas, no dia 23 de Outubro de 1880.
Homem humilde e extraordinariamente bom foi durante muitos anos uma figura típica de Avanca. Com os seus cabelos e barbas brancos de neve, surgia sempre onde estivessem crianças, principalmente no Verão, nas praias, vigilante e solícito. Era como um anjo da guarda entre os pequeninos.
Amigo do Professor Doutor Egas Moniz, conhecido e respeitado, o “Catitinha” era adorado por todos, sempre defendendo e protegendo as crianças.
Um drama na sua vida – uma filha morta em tenra idade, fez com que ele transferisse para todas as crianças o carinho e amor que dedicava à sua filha.
Já algo debilitado, acolheu-se então à protecção de uma família de Avanca, a família de António Moutinho. Tratado com todo o carinho, viveu mais um ano, desfiando as contas das suas infindáveis recordações que o prendiam a uma época de outrora.
Culto e inteligente, a sua memória era prodigiosa, falava do seu tempo de juventude como se as lonjuras da felicidade estivessem ainda ao alcance de um renovo.
Faleceu em Avanca, onde está sepultado, a 9 de Abril de 1969 e com ele desapareceu para sempre a sua ternura e a bondade. 
Fonte: Jornal de Avanca - Novembro 2004.

Padre António Maria de Pinho


Padre António Maria de Pinho nasceu em Avanca, no lugar do Seixo a 9 de Maio de 1864.
Após os estudos Primários, frequentou o Seminário do Porto, tendo rezado a sua Missa Nova em 1 de Janeiro de 1888.

Paralelamente à sua actividade sacerdotal, o Padre António Maria de Pinho era dotado de uma energia e tenacidade invulgares, sendo por isso respeitado e reconhecido por toda a população.

Entre outros feitos, foi presidente da Junta de Freguesia local, vereador e presidente da Câmara Municipal de Estarreja e orientou as obras da Casa do Marinheiro (actual Casa - Museu Egas Moniz).

A Freguesia de Avanca ficou-lhe a dever importantes melhoramentos públicos, sobretudo a construção da estrada Igreja a Água-Levada e a fundação da “Cooperativa de Avanca”. Faleceu em 15 de Janeiro de 1943.

Fonte: CARDOSO, Carlos Alfredo Resende dos Santos – Subsídios para uma monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca. Estarreja:Câmara Municipal de Estarreja, 2000.

Júlio Neves


Júlio Neves nasceu em Avanca em 24 de Fevereiro de 1881, sendo o primeiro filho dos oito filhos de António Maria Neves e Joana Maria Valente.

Em 1917 contraiu casamento com D. Eugénia Amália Fonseca de Araújo (senhora do Porto e de avultada fortuna). Pesarosos pela falta de filhos, dedicaram todo o seu carinho aos pobres, especialmente às crianças. O nome deste ilustre homem de Avanca está profundamente ligado às obras caritativas e às intenções de cariz social. Deste modo, entre outros méritos, Júlio Neves ajudou as crianças mais pobres de Avanca nas suas primeiras comunhões, ofereceu livros escolares, doou dinheiro e haveres para o Hospital Visconde de Salreu, ajudou a criar a cantina escolar de Avanca, estando sempre ao serviço dos mais necessitados.

Foi igualmente um mecenas, prestando ajuda a vários artistas plásticos, escultores e pintores. A música era também uma paixão, pois ele próprio foi um homem de cultura que ganhou tempo desenvolvendo as suas capacidades musicais.
D. Eugénia faleceu em 1939, tendo hoje em Avanca um bairro com o seu nome.
Falecido em 1958, depois de ter casado em segundas núpcias com D. Maria Angélica Magalhães, Júlio Neves deixou obras e um vasto património em favor dos mais desprotegidos, tendo mesmo deixado em testamento bens em favor da sua terra, casas e fontes de rendimento para os mais pobres e as intituições de solidariedade.
Há quem o recorde como um amigo dos pobres e das crianças e como um homem da cultura e do bem.

Fontes: CARDOSO, Carlos Alfredo Resende dos Santos – Subsídios para uma monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca. Estarreja: Câmara Municipal de Estarreja, 2000.

Adelino Dias Costa


Adelino Dias Costa nasceu em Avanca, em 2 de Dezembro de 1892, filho de António Augusto Dias Costa e Joaquina Gomes.
Possuindo unicamente a instrução primária, oriundo duma família de humildes lavradores, mas dotado dum grande génio incentivo e atento às lições da vida, Adelino Dias Costa conseguiu realizar, com os seus parcos recursos, um empreendimento industrial de saliente relevo na economia do distrito.
Em 1914 (Grande Guerra), Adelino Dias Costa é chamado às fileiras, faz curso de sargentos milicianos, em artilharia n.º 1, e após algumas alterações segue para o Norte de Moçambique, assentando arraiais na zona de Niassa.
Em 1920 consagrou-se o fundador da indústria de móveis de ferro Avancanense A.D.I.C.O. e, simultaneamente, o impulsionador da industrialização local.
Adelino Dias Costa foi agraciado com a Comenda da Ordem de Benemerência e homenageado publicamente pelo Concelho a 29 de Dezembro de 1946. Casado com D. Maria da Assunção Leite, faleceu, já viúvo em Outubro de 1976.

Fontes: CARDOSO, Carlos Alfredo Resende dos Santos – Subsídios para uma monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca. Estarreja: Câmara Municipal de Estarreja, 2000.

Marques Sardinha


Nasceu no lugar de Sardinha, Freguesia de Avanca, a 2 de Abril de 1859. Recebeu o nome de José Maria, filho legítimo de Domingos Marques e Maria Valente da Fonseca, no entanto tornou-se conhecido por Marques Sardinha.

Poeta do desafio e cantor popular de grande renome por todo o distrito, a sua fama fez com que estivesse presente em todas as festas e romarias da região. Fica para a história os seus descantes com Maria Barbuda, outra figura popular do Concelho.
Cantador do povo, Marques Sardinha também encantou vultos da realeza, da igreja e da arte.
Actualmente encontra-se na estação da CP de Avanca, um painel de azulejo, de autoria dos artistas aveirenses Francisco Pereira e Licínio Pinto, datado de 1929 que Avanca se orgulha de mostrar.
Faleceu com 81 anos a 1 de Abril de 1941,no lugar da Bandeira, onde hoje o seu nome é perpetuado com o topónimo de rua Marques Sardinha.

Para explicar o modo de vida de Marques Sardinha, nada melhor do que uma quadra que o próprio cantava:

Se um dia for's a Avanca
e prèguntar's pelo Marques,
qualquer pessoa te diz
que é home de quatro artes.

Primeira: sou lavrador;
segunda: sou musiqueiro;
a terceira, cantador;
e a quarta, sou ... putanheiro!


Egas Moniz


EGAS MONIZ (António Caetano de Abreu Freire), nasceu em Avanca em 29 de Novembro de 1874 e faleceu em Lisboa a 13 de Dezembro de 1955.
Frequentou a instrução Primária em Pardilhó, cursou os estudos liceais no Colégio de S. Fiel dos Jesuítas e os últimos anos no liceu de Viseu.
Após os preparatórios de Medicina em Coimbra desde 1891, matriculou-se em 1894 na respectiva Faculdade. Termina o curso em 1899, doutorou-se em Medicina em 14 de Julho de 1902 e a partir de 1903 foi Professor Catedrático na mesma Faculdade (Anatomia, Fisiologia e mais tarde Patologia Geral).
Ainda em Coimbra cultivou a Neurologia, estimulado pelo seu notável Mestre Augusto Rocha, um dos raros empreendedores da pesquisa laboratorial na Faculdade de Coimbra.
Foi em França, que procurou fazer a sua formação neurológica. Trabalhou primeiro em Bordéus com Pitres e Abadie e mais tarde, em Psiquiatria com Régis.
Em Paris, aprendeu com os grandes Neurologistas do tempo, Raymond, Pierre Marie, Degérine e Babinski.
Em 1911, foi transferido para Lisboa para ocupar a cadeira de Neurologia então criada pela República, cujo ensino era pela primeira vez instituído. Como Professor pelas suas qualidades reforçadas com a aprendizagem com os Mestres Franceses, Egas Moniz sempre soube aliar a faculdade e as elegâncias verbais com o seu espírito crítico e realista.
Nesta faculdade, que dirigiu durante algum tempo, dedicou-se também a trabalhos de pesquisa da Angiografia Cerebral e da Leucotomia Pré-Frontal, cuja descoberta o tornou mundialmente conhecido. Isso proporcionou-lhe a entrada na Academia de Ciências de Lisboa e fê-lo sócio de diversas Academias Estrangeiras, nomeadamente de Paris, Madrid, Rio de Janeiro, Estrasburgo, Buenos Aires, Nova York e Lyon.
Como Professor, Egas Moniz foi uma personalidade forte em todos os campos onde actuou, as qualidades de clareza e decisão, desassombro e arrogância que revelou nos seus trabalhos científicos. Marcaram também a sua actuação na vida política, durante o primeiro quartel do século XX, ou seja durante os últimos anos da Monarquia e vigência da primeira República. Foi por isso Deputado de várias Legislaturas entre 1903 e 1917, Ministro de Portugal em Madrid em 1917, Ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1917-1918 e foi igualmente o primeiro Presidente da Delegação Portuguesa à Conferência da Paz em 1918, onde conseguiu reatar as relações entre a Santa Sé e Portugal, que haviam sido interrompidas em consequência da Lei da Separação.
Democrata íntegro, sempre ergueu voz contra as prepotências abominando frontalmente todas as formas de Ditaduras, o que em certas fases da sua vida lhe acarretou graves e deploráveis desconsiderações. No entanto após instaurado o Fascismo em 1926, afastou-se decisivamente da política e recolheu-se ao seu labor de Cientista.
Para uma melhor avaliação da sua capacidade criadora e do labor científico em que foi ímpar, há que evocar o ambiente intelectual do seu meio e da sua época, bem como o estado da Medicina de então. No país manifestava-se um pungente atraso da ciência e tecnologia, grassava o marasmo científico, sendo excepcionais entre nós os que produziam um trabalho original. Rareavam os mais elementares meios de trabalho e não existia qualquer planificação e investigação.
No entanto, o insigne Mestre porque era um inconformista em relação aos conceitos vigentes, não cruzou os braços sobre o imobilismo e em Junho de 1927 a Angiografia Cerebral era uma realidade. Este novo método foi concebido com o fim de fornecer aos Neurologistas um auxiliar de investigação clínica principalmente no estudo das neoplasias. Acerca dela diz-nos Egas Moniz:
"Quando em Junho de 1927, consegui ver pela primeira vez ao raio x as artérias do cérebro, através dos ossos espessos do crânio, tive um dos maiores deslumbramentos da minha vida".
Depois dos êxitos diagnósticos da Angiografia e dos progressos consequentes da Neurologia, outro território mais vasto e difícil se desenhou no espírito de Egas Moniz, que curioso pelo desconhecido e ávido por desbravar novos domínios iniciou os seus estudos das "doenças mentais". Em 1935 era a descoberta da Leucotomia Pré-Frontal, que consistia em cortar a substância branca dos hemisférios cerebrais, para fazer o tratamento de certas doenças mentais (como esquizofrenia, psicoses, etc). Para a realização desta operação ele próprio criou o "Leucótomo". Os seus estudos prosseguem e a consagração não se fez esperar com a atribuição do Prémio de Oslo em 3 de Setembro de 1945 e do Prémio Nobel em 27 de Outubro de 1949.
Em manifestações colaterais dos seus métodos multiformes revelou-se notável Orador e Conferencista, Escritor de estilo aliciante e simples, onde entre tantas obras "Confidências de um Investigador Científico" e a "Nossa Casa", nos convidam a reflectida meditação. Etnógrafo informado, Biógrafo, Industrial e Coleccionador de Arte, sendo testemunho dos seus merecimentos neste domínio, a Casa Museu de que é patrono e que quis legar a todos os Portugueses.
Em suma, a sua vida mais do que uma caminhada de triunfo em triunfo, projectou-se autenticamente numa linha de ascensão.
Devemos inscrevê-lo na legião dos Sábios, dos Pioneiros, daqueles que passo a passo, conseguiram de alguma forma modificar o rumo da História.